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terça-feira, 1 de maio de 2012

Que nome tem?



- Pode ser chamado de saudade?
- O quê?
- Essa coisa que sinto por ele. As pessoas sentem saudade quando não estão perto, quando há distância, mas há sentimento. E a minha distância é tão diferente dessa! Tão diferente dessa coisa material de sempre. Quero dizer, tenho estado perto quase sempre, quase sempre no mesmo ambiente, cruzando olhares e sentindo aquela coisa perturbadora de não poder correr para o lado dele. Sabe essa saudade? Saudade de ser dele. Saudade do que havia. Por que quando o vejo é quase como se não o visse por estar distante. Distante demais de mim. Tão perto, mas tão longe...
- Acho que pode ser chamado de saudade.
- É, eu acho que pode ser chamado de saudade. Pode ser chamado de vontade também. Vontade que não é nova, mas que agora é sufocada.
- Que vontade, menina?
- Vontade de me ver no fundo dos olhos dele, de abraçar e entrelaçar as mãos também. Vontade de ser - Suspirou ao lembrar de que havia sido - Outra vez sua garota. Sabe? Chamar de meu, arrumar o cabelo, conversar... - Fechou os olhos sentindo a intensidade - apenas conversar...
- Guria, não tem medo desse sentimento?
- Nem me fale. É esse sentimento que me condena, que muda todos os ventos. Ele não tem culpa, Zé, não tem. Ele é mesmo muito encantador. Tem alguma coisa que não sei o quê. Alguma coisa que o diferencia das outras pessoas. Um brilho que ofusca, me entende?
- Me parte o coração, menina.
- E por quê?
- Porque depois de tanto tempo você ainda não esqueceu, menina. Já passou da hora... - Olhou os próprios pés - E esse sentimento eu conheço. Conheço bem.
- E o que eu faço com ele?
- Sabe que não sei? Ainda me embolo com o meu também.
- E faz tempo?
- Faz tempo. Tempo demais, menina.
- E a moça, bem?
- Não sei, guria, não sei.
Continuaram olhando o pôr-do-sol juntos. Companhia boa, silêncio que não doía. Sentiam falta de algo que já não tinham. Sentimento compartilhado, mas não entre aqueles dois. Amores perdidos, dois corações partidos. A guria, em seu simples jeito de agir, deitou a cabeça no ombro dele. Fecharam os olhos e quando abriram, os olhos refletiam a luz daquele sol bonito. Olhos molhados, digo. Tudo tão contradito! Desejo de carinho. Eram doídas as lágrimas ou eram de alívio? E esse sentimento... Digo, do que pode ser chamado?

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